Os brancos estão acostumados a nos ver em posições subalternas

Na última semana duas notícias nos chamaram atenção. A primeira foi a respeito da Déia Freitas, idealizadora do podcast Não Inviabilize, indiciada por conduzir um processo seletivo para mulheres negras e indígenas – processo que foi indeferido pela justiça. A outra foi a audiência para colher depoimentos e provas no Tribunal Regional do Trabalho, em Brasília, numa ação movida pelo defensor público da União, Jovito Bento Junior, contra a rede Magazine Luiza, pelo processo seletivo de trainee para pessoas negras.

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Defensorias de diversos estados brasileiros participaram do processo, no qual a Magazine Luiza é acusada de “marketing de lacração”, para apresentarem argumentos contrários ao autor da ação – também conhecido por ser antivacina e elogiar Hitler.

A ONG Criola ajuda a qualificar o debate sobre desigualdade racial no direito ao trabalho: “A tese visa desconstruir as conquistas legais das lutas por ações afirmativas, historicamente travadas pelo movimento negro. Nos propomos a contribuir com dados da realidade do mercado de trabalho para pessoas negras e mostrar como a iniciativa da Defensoria Pública da União poderá impactar de forma negativa tantas trabalhadoras e trabalhadores que precisam de maior inserção no mercado de trabalho”, explica.

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As duas ações apontam racismo reverso nos processos seletivos citados. Como sabemos racismo reverso não existe. O que vemos nesses dois casos é o racismo operando judicialmente por quem se sente ameaçado com ações afirmativas para levar pessoas negras para posições que não sejam subalternas.

No caso de Déia, a promotora Elisa Maria Brant de Carvalho Malta argumentou que a vaga divulgada “configura louvável exemplo de ação afirmativa destinada a garantir, em igualdade material e real de oportunidades, o ingresso de negras, pardas e indígenas no mercado de trabalho”. De fato estamos diante de ações afirmativas que trabalham em prol de uma reparação histórica.

O lugar do branco diante do nosso empoderamento profissional é de incômodo. Como disse Déa Freitas em entrevista a Firma Preta, o único caminho possível é o enfrentamento. Por isso seguimos divulgando processos seletivos como estes.

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