Onde estão os brancos nessa história?

A pergunta título da edição de hoje foi o ponto de partida de um debate com a psicóloga Cida Bento, a pesquisadora Carol Canegal, do Observatório da Branquitude, e a jornalista Yasmin Santos, na última sexta-feira, dia 10. A roda de conversa, no MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-brasileira, um lugar que vocês precisam conhecer aqui no Rio de Janeiro, marcou o lançamento do livro “O Pacto da Branquitude”, de Cida Bento.

Cida Bento trabalha com recursos humanos e muitos dos pontos tratados na conversa no MUHCAB você já viu passar aqui na Firma Preta. Mas um me chamou atenção: como parte da nossa geração enxerga os privilégios de pessoas brancas com um carimbo meritocrático. Se negros vivem os desdobramentos do período de escravização, os brancos também passam pelo mesmo processo. Mas em uma posição muito mais confortável.Nós somos servidores e beneficiários de uma realidade que nos antecede”, afirmou a autora.

Os brancos estão nos maiores cargos nas empresas por uma herança escravocrata e por algo que ela chama de solidariedade racial. Um branco puxa o outro. Quando existe um questionamento sobre o padrão homem branco cis nos cargos de liderança, a resposta é quase sempre a mesma: eles é que são qualificados para a posição. O mérito é usado como um disfarce para a resposta verdadeira. Ainda sobre essa questão, Carol Canegal lembrou do que acontece no nosso sistema de justiça onde gerações de uma mesma família ocupam os mesmos cargos como se fossem passados de pai para filho. Será que todos estão aí por mérito mesmo?  

Yasmim Santos levantou o tema da diversidade, muitas vezes utilizada para suavizar o racismo e lembrado pelas empresas após questionamentos externos sobre serem grandes bolhas de pessoas brancas. Um tema que já pareceu ser superficial, mas que hoje é importante para Cida. “A diversidade permite a coligação de diferentes. Ela pode fazer isso sem tirar a raça e o gênero das questões estruturantes da sociedade”. 

Ao final do evento, Cida Bento prometeu um bate-papo com a Firma Preta. Enquanto esse encontro não acontece, indicamos a leitura do livro “O Pacto da Branquitude” e das vagas da semana. Vem aí!

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