A materialização do nós por nós

A esta altura do campeonato, se você ainda não assistiu ao filme ‘Medida Provisória’, provavelmente conhece alguém que já viu. O longa brasileiro, que é a estreia de Lázaro Ramos como diretor, obteve a segunda melhor estreia nacional de 2022 e ficou apenas atrás de “Animais Mágicos: Os Segredos de Dumbledore”, filme da franquia Harry Potter.

‘Medida Provisória’, segundo levantamento da ComScore, levou 100 mil pessoas aos cinemas e já arrecadou mais de R$1,8 milhão desde seu lançamento. Isso levando em consideração que o filme não teve amplo espaço nas salas de exibição – diferentemente dos blockbuster que estrearam no mesmo período.É importante destacar o simbolismo deste feito por um filme nacional, que teve sua estreia boicotada pelos órgãos do governo, que tem elenco de maioria negra e equipe técnica também formada por profissionais pretos, por que para além de simbólico, é também a melhor materialização do ‘nós por nós’.

O Brasil está longe ainda de uma representatividade negra ideal no cinema. Não bastasse o pouco espaço nas salas, ‘Medida Provisória’ enfrentou diversas tentativas de sabotagem por parte do governo Bolsonaro, que além de racista, tem como método desmontar toda a estrutura de política pública de incentivo à cultura contribuída nos últimos anos. Por mais de uma vez o filme foi alvo de medidas que dificultaram o seu lançamento. Uma perseguição ideológica que visa minar todo o potencial de riqueza que a economia criativa do audiovisual brasileiro é capaz de gerar.

Diante do pouco espaço nos cinemas, antes do lançamento comercial, o diretor e sua esposa, a atriz Taís Araújo, – uma das protagonistas do longa e amplamente atacada por bolsonarista, até mesmo por um dos filhos do presidente –, fizeram uma ampla campanha nas redes sociais para que mais cinemas abrissem espaço para a obra. A resposta do público veio. Em sua segunda semana de exibição o filme ocupou mais salas, passando de 188 para 330.

A resposta a toda essa tentativa de apagamento veio e continuará vindo. Resistimos dentro e fora das telas de cinema, e o longa fala sobre isso: como cada ato nosso de resistência é uma forma de luta e de seguir diante de tanto descalabro e tentativa de silenciamento. Os inúmeros rolezinhos que foram organizados para assistir filme são atos dessa existência e de ocupação dos espaços que nos são negados todos os dias. Seguiremos ocupando todos eles, seja dentro ou fora da telona. Não tem volta.

Vá ao cinema! Assista ‘Medida Provisória’.

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